13 março 2010

O Delphi é o novo Cobol?

Depois de um debate em um fórum, fiquei pensando: será que o Delphi terá o mesmo destino de outras linguagens que foram líderes de mercado em suas épocas e depois sumiram, deixando um rastro de sistemas legados?

Acho que isso é o que acontece com qualquer linguagem bem sucedida. O Delphi foi um dos produtos mais famosos da finada Borland, que antes disso já tinha entrado para a história da informática com o Turbo Pascal. Acredito que o Brasil foi um dos maiores mercados do Delphi, já que essa linguagem acabou sucedendo o Clipper como padrão para o desenvolvimento de sistemas comerciais por aqui.

A linguagem era simples e poderosa (para a época), mesmo que um pouco verborrágica demais (afinal, era baseada em Pascal). Incluía uma orientação a objetos levemente parecida com Java (baseada em classes de herança simples, herança múltipla de interfaces, separação entre tipos primitivos e classes e, ainda, propriedades com getters e setters). O IDE era parecido com o do maior concorrente, o Visual Basic: muita facilidade para desenho das janelas e dezenas de componentes incluídos. Suporte a depuração, um compilador muito rápido (marca registrada da Borland) e a possibilidade de criar executáveis que rodavam sem a necessidade de runtimes e DLLs.

Durante boa parte da década de 90 essa foi a linguagem preferida para o desenvolvimento dos gloriosos "sisteminhas" como controle de estoque e frente de caixa. A grande facilidade de uso permitiu que programadores sem muita experiência criassem sistemas complexos. A possibilidade de criar componentes facilmente distribuíveis também favoreceu a criação de um grande mercado de componentes que davam acesso a dispositivos, geravam relatórios e manipulavam vários formatos de arquivos (só para ficar nos mais comuns).

Essa facilidade toda também teve seu lado negativo: desenvolver sistemas complexos é... complexo e quando feito por programadores sem o conhecimento necessário leva a abusos (gambiarras) e falhas na implementação. Programar é mais que desenhar janelas e arrastar componentes e a falta de qualidade nos sistemas feitos dessa maneira acabou contaminando a própria linguagem Delphi com uma fama de "coisa de amadores" (no mau sentido).

Com o tempo e o aparecimento de outras linguagens, o Delphi começou a mostrar as suas limitações. A falta de um bom gerenciamento automático de memória, a divisão entre tipos primitivos e a hierarquia de classes, a inexistência de referências que trabalhassem com esses dois "supertipos" de valores, a inflexibilidade da biblioteca padrão de componentes e os próprios bugs do IDE Delphi são exemplos de problemas que eram menores ou inexistentes na concorrência.

A enorme dificuldade da Borland em gerenciar o produto Delphi no mercado de linguagens de programação e em desenvolver a ferramenta de modo a acompanhar a evolução da programação acabou enterrando a linguagem. A falta de um suporte razoável para programação web também pesou nesse caminho. O Delphi ainda é muito usado no Brasil, mas cada vez mais empresas migram para linguagens mais modernas como Java e C#. De certa forma, dá pra dizer que o Delphi já é o novo Cobol.

E agora, qual será (é) o novo Delphi?